Natália Santucci


HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA – O ORIENTE NA BIBLIOGRAFIA REGULAR
Natália de Noronha Santucci
  
Nas últimas três décadas, no âmbito acadêmico brasileiro, estudos que contemplam as maneiras de vestir, as aparências pessoais e outros recortes no que concerne à moda e aos têxteis têm se expandido e resultado em teses, dissertações, cursos, eventos e publicações especializados. As pesquisas em História da Moda e da Indumentária seguiram a mesma tendência de ampliação, aprofundando o conhecimento sobre os temas em território nacional.
Contudo, as referências históricas básicas ainda são fortemente eurocêntricas. Alguns títulos bastante conhecidos de estudantes e docentes de moda serão analisados a seguir, com o objetivo de identificar a presença de conteúdos sobre o Oriente em suas páginas.
O primeiro critério de seleção desses materiais foi empírico, através da reunião de títulos frequentemente recomendados, tanto a acadêmicos quanto a leigos. O segundo, foi a abrangência temporal – apenas títulos que contemplassem múltiplos séculos seriam analisados. A partir desses critérios e da disponibilidade dos volumes no momento da escrita, os seguintes títulos foram designados para verificação:


Quadro 1: Livros com data original de publicação e tradução brasileira. Fonte: Dados obtidos nos exemplares.

‘A roupa e a moda: uma história concisa’ 
O primeiro entre os títulos selecionados a aparecer em língua portuguesa foi “A roupa e a moda: uma história concisa”, de James Laver, pouco depois da primeira graduação em Moda do país ser inaugurada, em 1987. No fim dos anos 1980, a editora Companhia das Letras lançou também “O Espírito das Roupas” (1987), da brasileira Gilda de Mello e Souza, e a tradução de “O Império do Efêmero” (1989), publicado por Gilles Lipovetsky na França apenas dois anos antes. Todos esses livros se tornaram leituras basilares para os estudiosos de Moda e História da Moda.
James Laver nasceu em Liverpool, em 1899 e faleceu em 1975. Ingressou no museu Victoria e Albert, em Londres, em 1922, onde trabalhou por 37 anos. Com formação em História Moderna e Teologia, se tornaria especialista em história do Traje e da Moda a partir do estudo e datação das gravuras, pinturas e desenhos do museu. Apesar de ter publicado mais de vinte livros que incluíam a moda e a indumentária, sendo mais da metade exclusivamente sobre isso, apenas sua “história concisa” foi publicada em português (VIANA, 2015).
Logo no índice é possível notar um alinhamento: o primeiro capítulo se propõe a tratar o “início de tudo”, e já nos três seguintes aparecem gregos, romanos, Europa medieval e Renascimento. Em seguida, embora sejam apenas datas, percebe-se seu atrelamento a acontecimentos impactantes para os europeus – como as revoluções de 1848 e o início da Segunda Guerra Mundial – e, consequentemente, o modo europeu de vestir.
Na primeira página de seu texto, Laver menciona o uso de calças por mulheres do Oriente Próximo e Distante. Pouco depois, cita o surgimento das grandes civilizações nos arredores dos rios Eufrates (antiga Mesopotâmia, hoje Turquia, Síria e Iraque), Nilo (Egito) e Indo (no atual Paquistão), e que a história do traje teria início antes mesmo desses povos.
O autor declara seu objetivo de centrar-se nas formas e nos materiais, utilizando como fontes pesquisas arqueológicas, esculturas e outras representações gráficas remanescentes dessas sociedades. Em seguida, expõe brevemente o uso de fibras animais e vegetais pelos ancestrais dos mongóis, na Ásia Central, e de “sarongues”, uma espécie de saia, pelos Egípcios e Assírios de ambos os gêneros. Outros povos da chamada Antiguidade são pontuados – medos, persas e babilônios, por exemplo. Após algumas páginas dedicadas ao Egito, finaliza o capítulo com um trecho concentrado na civilização minoica.
De acordo com Durant (1939/2011), a cultura cretense, anterior ao período “grego clássico”, compartilharia raízes asiáticas e egípcias. Com isso em vista, essa população poderia, em certa medida, ser classificada como “oriental”.
O primeiro capítulo de Laver é, portanto, o mais “oriental”. A partir de então, uma ou outra referência do Oriente no traje europeu é mencionada ocasionalmente – como os trajes “persas” ou “turcos” que entraram em voga entre os nobres dos anos 1660, no capítulo cinco, ou a “nova onda de Orientalismo” provocada pela expedição de Napoleão ao Egito, no capítulo sete.
Laver escreveu nove dos dez capítulos, originalmente encerrando o livro com o ano de 1939. Sete anos após sua morte, o décimo capítulo foi incluído, escrito por Christina Probert – que, nos anos 1980, publicou uma série de livros dedicados a segmentos como chapéus e roupas de banho publicados na revista Vogue. A autora passa pelas décadas seguintes, concluindo no início dos anos 1980 – não há menção aos estilistas japoneses que ganharam destaque entre os anos 1970 e 1980, por vezes nomeado como Japonismo, outras como Vanguardismo Japonês.
História do vestuário’
Carl Köhler foi um pintor alemão, que viveu entre 1825 e 1876. O livro foi elaborado a partir de seus escritos de 1871, resgatados de um “injusto esquecimento”, complementado e adaptado por Emma von Sichart. A edição mais antiga conhecida é de 1926, pela editora Bruckmann, de Munique. Von Sichart menciona que a obra de Köhler se distingue de outras semelhantes por sua “abrangência minuciosa” e “o vasto conhecimento que o autor tinha dos aspectos práticos de seu tema” (p.5). Pode-se ainda pensar que a perspectiva de um alemão, invés da de um francês ou inglês, seria um diferencial. Contudo, ainda é um homem europeu do século XIX, e sua editora, ao que tudo indica, é uma mulher europeia do início do século XX.
Dito isso, não surpreende que, embora o índice não contenha termos como “Renascimento”, sua divisão remeta estritamente a acontecimentos da história europeia. Outro aspecto que cabe sublinhar é que, alegadamente, as roupas usadas por trabalhadores e os trajes típicos foram omitidos, embora von Sichart indique que há numerosos “pontos de contato entre a indumentária histórica e os trajes populares” (p.57).
Em seguida, é iniciado o primeiro capítulo, contemplando “Os povos da antiguidade”, começando pelos egípcios, seguidos pelos etíopes, cujo vestuário “tinha mais características em comum com o estilo asiático, ou, mais precisamente, com o estilo assírio” (p.70). Em seguida, aborda sírios e fenícios, e então os hebreus – cujas representações da indumentária seriam bastante escassas. Assim, as descrições contidas no Antigo Testamento foram utilizadas como base – o que é comparável com o emprego da iconografia sagrada dos antigos egípcios como fonte para compreensão de questões culturais mais efêmeras da época.
O capítulo prossegue: assírios e babilônios, que teriam constituído “o mais poderoso dos estados asiáticos, absorvendo toda a civilização da Ásia Ocidental” (p.80). Medos e persas aparecem na sequência. Algumas páginas são dedicadas aos povos citas, partos, sármatas, dácios e ilíricos.
Os cretenses aparecem, mais uma vez, como um povo na divisa entre o que mais tarde seria Oriente e Ocidente. Por fim, “Os povos da Ásia Menor”, condensados em três páginas, antes de iniciar um trecho voltado aos gregos, etruscos e romanos. O capítulo é finalizado com os bizantinos, que também poderiam ser vistos como um povo limiar.
Assim se encerra a participação “oriental” no texto, cuja última década abordada é 1870. Apesar do material original ter sido revisado por von Sichart nos anos 1920, a editora não incluiu as décadas entre o falecimento de Köhler e a publicação do volume – portanto, não chega aos anos 1910, quando, de acordo com Laver, a tendência Orientalista ressurgiu na moda, devido ao Ballets Russes e a uma guerra contra o Japão.
‘A evolução da indumentária: subsídios para criação de figurino’
A figurinista Marie Louise Nery nasceu na Suíça, em 1924. Casou-se com um brasileiro, com quem se mudou, no fim dos anos 1950, para o Rio de Janeiro, onde ambos desenvolveram figurinos teatrais e carnavalescos. A partir dos anos 1960, Nery se tornou professora e criou figurinos para cinema e televisão, além de participar de exposições de artes e ilustrar livros (JUNQUEIRA, 2006). Em 2003, lançou o livro aqui examinado, com a intenção de “transmitir, numa linguagem de fácil compreensão, alguns conhecimentos sobre a roupa do passado e o relacionamento entre a vestimenta e as situações que levaram à sua produção” (p.9).
Carvalho e Silva (2018) pontua que a influência dos “marcos tradicionais” da História Europeia permanece grande na historiografia brasileira, e é possível notar esse poder neste título. Ainda que a autora suíça vivesse há mais de quarenta anos no Brasil na época da publicação de seu livro, a periodização adotada deriva de intervalos históricos ou estilos artísticos fundamentalmente europeus.
Fora desse circuito, há itens para a Mesopotâmia, o Egito e o Bizâncio. O Oriente será mencionado novamente em poucas linhas, no item voltado para o início do século XX, quando a já citada “onda oriental se fez notar em muitas criações da vestimenta” do balé russo Sherazade, e “a guerra russo-japonesa fez nascer um novo feitio de mangas em Paris, com a imitação dos quimonos” (p.195). Como “subsídio para a criação de figurinos”, o livro traz moldes em escala dos trajes mencionados em cada capítulo - neste, um “vestido quimono” vem como representante do Orientalismo. 
O último item “de época” remete aos anos 1980. De acordo com a autora, “no mundo moderno (...) pode-se falar de uma moda sem fronteiras, praticamente a mesma do Oriente ao Ocidente” (p.9), uma declaração que por si só já renderia múltiplas reflexões, como por exemplo, quanto aos limites do alcance da Moda, para que possa ser designada “sem fronteiras”.
Os livros de Boucher e Köhler, assim como outro trabalho de Laver, de 1950, e os citados de Mello e Souza e Lipovetsky aparecem na bibliografia informada no fim do exemplar.
‘História do vestuário no ocidente: das origens aos nossos dias’
Pode causar estranhamento a presença de um livro que já no título propõe focar no Ocidente. Contudo, percorrendo o sumário do volumoso exemplar – quase 480 páginas – nota-se que o Oriente recebe aqui mais do que menções avulsas. O livro possui 14 capítulos, divididos em subitens, além da introdução e informações extras, como Glossário. Algumas dessas subdivisões dos capítulos destacam culturas orientais ou remetem às suas influências no vestuário europeu – nenhuma surpresa com a perspectiva eurocêntrica aqui.
Curador do museu Carnavalet, François Leon Louis Boucher nasceu em Paris, em 1885. Em 1948, criou a “Union française des arts du costume (UFAC)”, que antecedeu ao Museu das Artes da Moda, fundado em 1981. Após sua morte, em 1966, foi sucedido na UFAC por sua assistente, Yvonne Deslandres, que também foi responsável pela ampliação de sua “História do vestuário no Ocidente” (GARNIER, 1988; LIBRARY OF CONGRESS, s.d.)
O livro, que originalmente antecede o de James Laver, foi citado pelo inglês em suas referências bibliográficas, assim como por Marie Louise Nery.
Boucher demonstra bastante cuidado ao elaborar seu manual – faz críticas ao uso de fontes com pouca credibilidade e atenta para a complicação no uso de vocabulários e denominações imprecisas, por exemplo. Propõe cobrir lacunas deixadas por publicações sem caráter científico e lamenta a perpetuação de erros graves em parte dessa literatura. Por outro lado, declaradamente coloca o vestuário civil francês no centro da obra.
No primeiro capítulo, o autor associa a Pré-História aos fluxos migratórios, citando quatro “ciclos de civilização” – o do Oriente Antigo, mais três na Europa. Em seguida, a própria divisão dos capítulos parece corresponder a uma movimentação migratória, partindo do Antigo Oriente em direção ao Mediterrâneo, onde as noções de Oriente e Ocidente começam a se mesclar. Sobre Creta, por exemplo, afirma que “não pode ser incluída no Oriente Próximo, pois seria uma civilização mista” (p.63). 
No quarto capítulo, aborda a trindade tradicional da antiguidade – Egito, Grécia e Roma. Junto a esses povos, trata a Etrúria, cujo modo de vestir poderia ter “origem em uma importação oriental” (p.93), e as regiões da Sardenha, Península Ibérica e África do Norte, que teriam também seus ecos do Oriente.
Do quinto capítulo em diante, o foco recai totalmente sobre a Europa – embora ao tratar do Bizâncio, destaque o “despertar dos nacionalismos orientais” (p.118) – e menciona a influência da Pérsia nos Balcãs e na Rússia. Contudo, será nesses termos que será tratado daqui em diante: como alguns povos, sobretudo do Oriente Próximo, teriam afetado os modos de vestir dos europeus. Nos capítulos IX e X o Oriente Distante é citado – a difusão de peças de algodão de origem asiática e o feitio dos bordados de lugares como Índia e China teriam promovido uma onda de Exotismo.
O Exotismo, embora possa carregar uma positivação do “outro”, se estabelece no distanciamento, seja geográfico, cultural ou temporal, tomando a própria cultura como parâmetro de valor, e no estranhamento, ainda que em um nível aceitável ou desejável (ver mais em SANTUCCI, 2017).
Poderia ser esperado que, com a ampliação do contato internacional durante o século XX, e o sucesso de estilistas japoneses na França oitentista, como Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, a Ásia voltaria a ter destaque no livro. Entretanto, esses nomes são mencionados no fluxo do texto, sem grande ênfase para uma nova “influência oriental”.
‘A história mundial da roupa’
Patricia Rieff Anawalt (1924-2015) foi uma antropóloga californiana, considerada uma autoridade em Mesoamérica. Atuou por anos junto à Universidade da Califórnia (UCLA), que hoje dá seu nome a um centro de pesquisas em sua escola de Artes e Arquitetura, sediado no museu Fowler – “The Anawalt Center for the Study of Regional Dress”.
Em 2007, Anawalt publicou sua “história mundial” que, embora tenha “roupa” no título, vai além, contemplando, por exemplo, modificações e ornamentações corporais de parte das culturas abordadas no volumoso estudo, traduzido para pelo menos nove outros idiomas. Uma dessas traduções, para o português, foi publicada em 2011, pela Editora Senac – que possui um considerável portfólio de publicações sobre Moda e temas afins.
Entre os dez capítulos do livro, dedicados à indumentária tradicional do mundo todo, cinco são dedicados à Ásia e ao Oriente, e um à África. Além disso, dois capítulos contemplam o continente americano, dividido entre Norte e Sul.
Aqui, cabe pontuar que, de acordo com José Henrique Bortoluci, professor no Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Faculdade Getúlio Vargas, a identificação da América Latina como “ocidental” não é um consenso, permanecendo no “limbo classificatório”, ao lado da África e da Rússia. Alguns autores utilizariam, inclusive, o termo “extremo ocidente”, para distinguir essa parte do continente americano (RODARTE, 2018).
Retomando a análise do livro, Anawalt entrega uma perspectiva diferente, centralizando a cultura abordada, invés de colocar a visão estadunidense como base, por exemplo. Além disso, a autora inclui aspas ao tratar de “descobrimentos” realizados por europeus – e destaca, diferentemente de Boucher, seis “berços da civilização”, passando pela antiga Mesopotâmia, tido como o ponto de partida para a civilização ocidental, mas abrangendo a milenar civilização chinesa e seu domínio na Ásia Oriental, assim como a colonização da América do Norte por povos da Ásia Central e da Sibéria.
Não raramente é estabelecido um paralelo entre o passado e o presente das populações estudadas, além de apresentar o leitor à nomenclatura original dos trajes e dos adornos utilizados, o que por si só já possibilitaria um caminho de pesquisa diferenciado para quem buscasse se aprofundar na história do vestuário oriental.
No fim do exemplar, as referências bibliográficas apresentam trabalhos “gerais”, como o de Boucher, mas oferecem uma vasta lista de publicações de referência, organizada conforme divisão regional dos capítulos. Embora, aparentemente, a maior parte das obras tenha origem ocidental, ao lado do livro de Anawalt esses títulos contribuem para que alguns passos sejam dados na direção de desvendar as culturas orientais para além das “influências” no vestuário europeu.
Considerações finais
Ao notar a presença esparsa dos povos orientais nesses textos de referência em língua portuguesa, é possível considerar a história da indumentária dessas culturas como um vasto campo a ser explorado e compreendido, inclusive em seus pontos de contato com culturas originárias americanas.
Um desafio, porém, tanto para docentes que almejam introduzir novas referências e perspectivas em suas aulas, seja para pesquisadores que buscam pontos de partida, é a necessidade do domínio de ao menos um idioma estrangeiro, o inglês, uma vez que as publicações traduzidas são escassas.
Quanto ao acesso às fontes primárias, uma busca em acervos virtuais de museus de todo o mundo poderia fornecer ao menos um material inicial, uma vez que seria uma forma de acessar artefatos produzidos pelas culturas orientais, sendo viável a tradução (automatizada) das informações vinculadas a eles.
Embora alguns dos autores vistos indiquem uma “globalização da moda”, essa mundialização aparentemente se refere ao domínio da produção industrial europeia-estadunidense sobre a criação e uso de vestuário e adereços locais por povos de outras culturas. Um exemplo pode ser visto em polêmicas bastante presentes quanto ao uso ou proibição de elementos livres dessa dominação, que remetem a determinados povos e re(li)giões, ocasionalmente debatidos sob a perspectiva de “apropriação cultural” ou “intolerâncias”.
Dito isso, parte dos estudos observados aqui foram conduzidos sob um olhar distinto do de nossa época, sequer abordando fenômenos dos últimos trinta anos – seria, então, uma expectativa irreal contar com um aprofundamento no trato de culturas orientais difundidas com uma suposta “globalização” da moda, uma vez que essa mesma noção teria surgido, segundo alguns estudiosos, em meados da década de 1980.
Outra questão a ser considerada, é que “moda” frequentemente define formas e comportamentos momentâneos – o que poderia ser dito, então, sobre o modo de vestir cotidiano e mais ou menos fixo das sociedades da Ásia e Norte da África, na contramão da adesão temporária?
Por fim, é possível refletir em que medida o que o Ocidente recebeu do Oriente nas últimas décadas ainda é tratado como exótico, exceto ao se assemelhar a estilos consolidados na Europa ou nos Estados Unidos, sendo ainda que parte do que circula provém de subculturas da Coreia ou do Japão.
Da mesma forma que a Moda Brasileira ainda tem diversas lacunas a ser preenchidas, que esses manuais importados não logram, é imperativa a busca pela inclusão do Vestuário Oriental entre as referências fundamentais para historiadores da indumentária, sem uma carga de estranhamento.
Referências
 Natália de Noronha Santucci é mestra em História pela PUCRS, especialista em Moda, Mídia e Inovação pelo Senac/RS e bacharela em Design de Moda pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Atua junto ao Grupo de Pesquisa História da Arte e Cultura de Moda/UFRGS-CNPq como pesquisadora independente. e-mail: nataliasantucci@gmail.com
 ANAWALT, Patricia Rieff. A história mundial da roupa, tradução Anthony Cleaver e Julie Malzoni. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
BOUCHER, François. História do vestuário no Ocidente: das origens aos nossos dias, tradução André Telles. Edição ampliada por Yvonne Deslandres. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
CARVALHO E SILVA, Márcio Douglas de. A presença de conteúdos sobre a Ásia no livro didático de história do ensino médio. 2º Simpósio Eletrônico de História Oriental, 2018. Disponível em: http://simporiente2018extremo.blogspot.com/p/a-presenca-de-conteudos-sobre-asia-no.html
DURANT, Will. The story of civilization. Vol. II: The life of Greece. New York: Simon and Schuster, 2011. (Original publicado em 1939)
FOWLER MUSEUM AT UCLA. The Anawalt center for the study of regional dress. Disponível em: https://www.fowler.ucla.edu/anawalt-center-for-study-regional-dress/
JUNQUEIRA, Christine. Biografia de Marie Louise Nery: Uma figurinista de traço e estilo. FUNARTE: Brasil Memória das Artes, 2006. Disponível em:
http://portais.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/cenario-e-figurino/biografia-de-marie-louise-nery/
KÖHLER, Carl. História do vestuário. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
LAVER, James. A roupa e a moda: uma história concisa. Capítulo final [por] Christina Probert. Tradução Glória Maria de Mello Carvalho. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 
LIBRARY OF CONGRESS (LOC). Boucher, François, 1885–1966. Disponível em:
http://id.loc.gov/authorities/names/n87828754.html 
NERY, Marie Louise. A evolução da indumentária: subsídios para criação do figurino. Rio de Janeiro: SENAC, 2003. 
GARNIER, Guillaume. Yvonne Deslandres (1923-1986). In: Bibliothèque de l'École des chartes, p.459. Disponível em:
https://www.persee.fr/doc/bec_0373237_1988_num_146_2_464436
RODARTE, Leonardo. Você se considera ocidental? Para grande parte do mundo, o Brasil não faz parte do Ocidente. UOL Notícias, 24 Set. 2018. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/09/24/brasil-nao-e-pais-ocidental.htm
SANTUCCI, Natália de N. O exotismo na moda: panorama e reflexões. In: A moda e suas interfaces [recurso eletrônico]: pesquisa, história, comunicação, gestão e tecnologia. pp.241-252. Organização Francisca Dantas Mendes. Capítulos originados das pesquisas apresentadas no 6º Encontro Nacional de Pesquisa em Moda (ENPMODA). São Paulo: EACH/USP, 2017. Disponível em: http://www.abemoda.com.br/enpmoda2016/
VIANA, Fausto Roberto Poço. Fontes documentais para o estudo da história da moda e da indumentária: o caso James Laver e novas perspectivas. Dissertação (Mestrado em Têxtil e Moda) - Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100133/tde-16122015-125257/pt-br.php

14 comentários:

  1. Boa noite, parabéns pelo trabalho.

    Apesar da afirmação de Von Sichart, você cita em História do Vestuário, que os trajes típicos e as roupas usadas por trabalhadores foram omitidas. Por que ocorreu essa omissão?

    Atenciosamente, Luana Aparecida da Silva.

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    1. Olá, Luana!
      Agradeço pela leitura e pelo comentário.

      De acordo com Emma von Sichart, o próprio Carl Köhler não buscou descrever esses tipos de vestuário, nem outro autor da época, Max von Boehn, que ela menciona no prefácio e na introdução do livro como uma referência importante para seu próprio trabalho.

      Outros aspectos que poderiam justificar essa opção, é que, de acordo com a editora, esse estudo teria se baseado em técnicas de alfaiataria e peças originais, que possivelmente percorriam um circuito de produção - uso - descarte diferente do percorrido pelo vestuário das classes populares. Além disso, o livro que chegou aos dias de hoje foi composto nos anos 1920, quando a escrita da História ainda seguia um modelo centrado nas elites.

      Um abraço!
      Natália

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  2. A respeito do trecho sobre o trabalho de Boucher : "Propõe cobrir lacunas deixadas por publicações sem caráter científico e lamenta a perpetuação de erros graves em parte dessa literatura." Quais seriam esses erros graves perpetuados? Eles refletiram negativamente na nossa concepção atual?

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    1. Olá, Thaís!
      Agradeço pela leitura e pelo comentário.

      Boucher destaca os erros de denominação, mas não detalha outros tipos de problemas, apesar de considerá-los lamentáveis.

      Nessa linha, acredito que ainda hoje questões de nomenclatura são um desafio para historiadores do vestuário, não só dentro do próprio idioma, mas por traduções imprecisas.

      Também não é raro vermos indivíduos sendo creditados incorretamente como criadores ou "libertadores" de determinadas peças de roupa, frequentemente simplificando processos sociais bem mais complexos (discuto um pouco isso no meu texto "O elegante sport", em concordância com as autoras Valerie Steele e Elizabeth Wilson).

      Vou encerrar minha resposta por aqui, mas creio que seu questionamento dá abertura para uma reflexão muito mais ampla (fique à vontade para me enviar um e-mail sobre isso, se quiser).

      Um abraço!
      Natália

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    2. Muito obrigada pela atenção e parabéns pelo trabalho!

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  3. Olá Santucci, como estudante de história eu observo a falta de leituras voltadas para autores não europeus, enfim, gostaria de saber se na sua percepção e estudos, qual a importâncias das visões orientais para com as outras partes e histórias do mundo e como a mesma poderia auxiliar na formação acadêmica, se despendendo da cadeira de "Oriente Contempôraneo" ?

    Maria Luísa Soares Marcolino

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    1. Olá, Maria Luísa!
      Agradeço pela leitura e pela questão proposta.

      Eu acredito que perspectivas não-eurocêntricas sempre podem trazer um ganho enorme para nossas reflexões, para nossa percepção do mundo de uma maneira mais ampla.

      É possível que a falta de indicação desse tipo de leitura seja, em parte, pelo repertório da nossa formação estar muito ancorado no olhar europeu. Ao lado disso, essa abertura para outras visões é consideravelmente recente e, eventualmente, alguns materiais acabam restritos aos que dominam idiomas estrangeiros (seja o do autor, ou o inglês, que acaba sendo o idioma de circulação de muitas obras de outras origens).

      Em relação ao desprendimento do "Contemporâneo", pode ser um desafio. O prof. André Bueno publicou esse ano aqui no evento um texto sobre os "clássicos orientais" que, apesar de carregarem algumas questões problemáticas, seriam primeiras leituras importantes - e algumas dessas obras foram redigidas há séculos, o que poderia ser os primeiros passos pra compreender esses outros tempos [há inclusive a indicação de subsídios para essas leituras: https://simporiente2019or.blogspot.com/p/andre-bueno.html]

      Espero ter conseguido trazer uma resposta adequada, sem me alongar muito.

      Um abraço!
      Natália

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  4. Olá Natália Santucci! Muito interessante seu texto. Achei mais fantástico ainda pela sua abordagem, pelo teor bibliográfico, ainda que por autores não orientais. Soa um pouco estranho isso, mais é bastante válido, visto que, imagino os textos em línguas originais, sem traduções tornaria a tarefa mais dolorosa...Quanto a apropriação em termos práticos de indumentárias ditas orientais por ocidentais não deixaria de causar estranheza. A roupa, ou melhor, a indumentária reflete uma cultura de origem?

    Jessé Gonçalves Cutrim

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    1. Olá, Jessé!
      Agradeço pela leitura e pelas observações.

      Os padrões de aparência, tanto em relação ao corpo, quanto à roupa, são parte e reflexo das culturas, sim. Porém, às vezes os traços que vemos dessas culturas não estão na indumentária original dos povos, mas sim em adaptações feitas na Europa, que acabam nos dando uma ideia um pouco distorcida.

      Infelizmente, para o estudo de história da indumentária, ainda não são comuns nem referencial, nem fontes orientais - esperançosamente, esses primeiros passos de trazer visibilidade a esses povos mude esse cenário em alguns anos.

      Um abraço!
      Natália

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  5. Boa tarde.
    Parabéns, pelo texto. Ele, de fato, nos ajuda a perceber que ainda se faz muito necessário a disponibilização, em nosso país, de obras que tratem sobre a história da indumentária oriental. A partir do que foi apresentado gostaria de saber o seguinte: No que tange às vestimentas, quais são os pontos de contato entre a cultura oriental e a cultura americana?

    Por: Raimundo Nonato Santos de Sousa / CESC-UEMA.

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    1. Olá, Raimundo!

      Concordo, é bastante importante que essas publicações se tornem acessíveis.

      Quanto aos pontos de contato, poderíamos pensar em alguns caminhos percorridos: 1) o dos fluxos migratórios da Ásia para as Américas, tanto os que povoaram o continente antes da colonização europeia, quanto os ocorridos no século XX
      2) o das importações de produtos ou estilos, sejam as modas "orientalistas" da Europa, ou artefatos originais do oriente, como produtos de grife ou de moda alternativa.

      Para citar um exemplo, como um contato indireto, há calças largas que, no século XIX, foram adaptadas para trajes esportivos e fardas militares (discuto mais esse aspecto no texto "O elegante sport", caso tenha interesse, e a profª Joana Bosak, da UFRGS, já publicou textos que relacionam essa peça à bombacha gaúcha).

      Um abraço!
      Natália

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  6. Espetacular o seu trabalho de pesquisa Natália. Muito bom o texto.
    Na leitura percebi que A indumentária Ocidental por muitos séculos exerceu influência no mundo e as indumentárias Orientais eram vistas como “exóticas”. No texto você cita que “nos anos 1910, quando, de acordo com Laver, a tendência Orientalista ressurgiu na moda, devido ao Ballets Russes e a uma guerra contra o Japão”. Contudo, nas últimas décadas acompanhando a mídia, percebi uma nova tendência da vestimenta oriental no ocidente bastante perceptível, especialmente China e Japão. Na sua visão, o que poderia ter contribuído para que uma nova tendência pela roupa oriental caísse no gosto da moda ocidental?

    Jonas Durval Carneiro - UFRPE.

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    1. Olá, Jonas!
      Agradeço imensamente pela leitura e pelo feedback super positivo.

      Desde os anos 1970, estilistas chamados de "Vanguarda Japonesa" começaram a ter sucesso na Europa. Também a cultura jovem japonesa vem, desde pelo menos os anos 1990, conquistando entusiastas fora do Japão, e creio que a emergência da China como potência no cenário internacional também colocou os olhos do mundo sobre a cultura do país.

      Creio ainda que, entre outras mudanças sociais, a dinamização da comunicação nas últimas décadas favoreceu muito a circulação de outras referências de vestuário.

      Um abraço!
      Natália

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